Água demais pode fazer mal e até matar
Em uma cultura obcecada pela hidratação, é possível sofrer uma overdose de água
ue a água é essencial para a vida, todo mundo sabe. O líquido constitui 66% do corpo humano e está presente no sangue e nas células, além de preencher os espaços entre eles. O corpo perde água a todo o momento por meio do suor, da urina, fezes e expiração, entre outras “rotas de fuga”. Reabastecer os estoques é essencial, mas a reidratação também pode ser excessiva. Uma overdose de água pode ser fatal.
No começo de 2007, uma mulher de 28 anos de idade, na Califórnia, morreu após participar de um concurso de uma rádio para ver quem conseguia tomar mais água. Após ingerir seis litros em apenas três horas na competição – cujo prêmio era um videogame Nintendo –, Jennifer Strange vomitou, foi para casa com uma terrível dor de cabeça e morreu de “intoxicação por água”.

Há outros exemplos de mortes trágicas por excesso de água. Em 2005, em uma república de estudantes na California State University, uma mulher de 21 anos morreu depois de ser forçada a beber quantidades absurdas de água entre sessões de flexões de braço, em um porão gelado. Já houve também casos de morte de usuários de ecstasy em boates, depois de beberem grandes quantidades de água para tentar se reidratar após noites seguidas dançando e suando. Um estudo de 2005 do New England Journal of Medicine revelou que cerca de um sexto dos maratonistas desenvolvem algum grau de hiponatremia, ou diluição do sangue, que acontece quando se bebe água demais.

Ao pé da letra, hiponatremia quer dizer “sal insuficiente no sangue”, ou seja, uma concentração de sódio no sangue abaixo de 135 milimoles por litro – a concentração normal fica entre 135 e 145 milimoles por litro. Casos graves de hiponatremia podem levar à intoxicação por água, uma doença cujos sintomas incluem dores de cabeça, fadiga, náusea, vômito, urinação freqüente e desorientação mental.
Em humanos, os rins controlam a quantidade de água, sais e outros solutos que deixam o organismo, “peneirando” o sangue através de seus milhões de túbulos. Quando uma pessoa bebe água demais em pouco tempo, os órgãos não conseguem liberar essas substâncias rapidamente o bastante, e o sangue fica “encharcado”. Atraída por regiões onde a concentração de sais e outras substâncias dissolvidas é mais alta, a água em excesso deixa o sangue e entra imediatamente nas células, que incham como balões para conseguirem acomodá-la.

A maioria das células tem espaço para se expandir, pois fica em tecidos flexíveis, como gordura e músculo, mas este não é o caso dos neurônios, apertados dentro da caixa craniana – que ainda é dividida com o sangue e o líquido cérebro-espinhal, explica Wolfgang Liedtke, neurocientista clínico do Centro Médico da Duke University. “No crânio quase não há espaço para que eles se expandam ou inchem”, ele afirma.

É por isso que o edema ou inchaço cerebral pode ser desastroso. “A hiponatremia rápida e grave causa a entrada de água nos neurônios, levando ao inchaço que se manifesta em convulsões, coma, falha respiratória, hérnia cerebral e morte”, explica M. Amin Arnaout, chefe da nefrologia do Massachusetts General Hospital e da Harvard Medical School.

E onde as pessoas arranjaram essa idéia de que beber enormes quantidades de água é saudável? Anos atrás, Heinz Valtin, especialista em nefrologia da Dartmouth Medical School, decidiu verificar se o conselho comum de se tomar oito copos de água por dia resistiria à prova científica. Após pesquisar toda a literatura científica sobre o assunto, Valtin concluiu que nenhum estudo endossa os oitos copos de água diários (para adultos saudáveis que vivem em climas temperados e fazem algum tipo de exercício). Na verdade, tomar essa quantidade de água ou mais “poderia ser prejudicial, tanto pelo perigo da hiponatremia quanto pela exposição a poluentes, além de fazer com que as pessoas se sintam culpadas por não beberem água suficiente”, ele escreveu no American Journal of Physiology—Regulatory, Integrative and Comparative Physiology em 2002. Desde a publicação de sua descoberta, diz Valtin, “nenhum estudo em uma publicação na área provou o contrário.”
A maioria dos casos de intoxicação por água não acontece simplesmente por beber água demais, explica Joseph Verbalis, do Georgetown University Medical Center. “Geralmente é uma combinação de ingestão excessiva de líquidos e maior secreção de hormônio antidiurético, ele diz.” Produzido pelo hipotálamo e secretado na corrente sanguínea pela glândula pituitária posterior, esse hormônio faz com que os rins retenham água. A sua secreção aumenta em períodos de estresse físico – durante uma maratona, por exemplo – e pode fazer com que o organismo retenha água mesmo se a pessoa beber quantidades excessivas.

A cada hora, um rim saudável em repouso consegue excretar de 800 a 1000ml de água – assim, uma pessoa pode beber água a uma velocidade de 800 a 1000ml por hora sem ter um ganho líquido da substância, explica Verbalis. Se a mesma pessoa está correndo uma maratona, no entanto, o estresse da situação irá aumentar os níveis do hormônio antidiurético, reduzindo a capacidade de excreção para até 100ml por hora. Beber de 800 a 1000ml de água por hora sob essas condições poderia levar a um ganho líquido em água, mesmo se a pessoa estiver suando consideravelmente, ele diz.

Ao praticar exercícios físicos, “você deveria equilibrar a quantidade da água que bebe com a quantidade de suor que produz”, e isso inclui bebidas isotônicas, que também podem causar hiponatremia quando consumidas em excesso, aconselha Verbalis. “Se você está suando 500ml por hora, deveria ingerir o mesmo volume de água.”

No entanto, medir o suor não é nada fácil. Como um maratonista, ou qualquer pessoa, pode determinar o volume de água a ser consumido? Se você é saudável e ainda tem um barômetro de sede que não tenha sido prejudicado pela idade ou pelo uso de medicamentos, siga o conselho de Verbalis: “beba água de acordo com sua sede. É o melhor indicador”.

A água é vital para sobrevivência dos seres humanos e também de outras espécies animais e vegetais. Como todos sabem, ela é o elemento capaz de promover e sustentar o desenvolvimento da vida, não é atoa que as missões espaciais, na tentativa de encontrar vida fora da terra, concentram esforços primeiramente na possibilidade de se encontrar água. Os médicos e outros especialistas recomendam a ingestão diária de dois litros para o bom funcionamento do organismo. Porém, beber água de forma desmedida pode até te levar a morte.

Em 2007, uma mulher residente do estado da Califórnia, nos Estados Unidos, passou mal após beber 6 litros de água. Foi durante uma promoção de uma rádio local que presentearia com um videogame o concorrente que fosse capaz de beber maior quantidade do líquido. Outro caso já havia acontecido em 2005, quando uma jovem de 21 anos foi coagida a beber muita água durante uma atividade física, que era realizada em um cômodo residencial congelado. Há relatos também de que pessoas que consumiram muita água depois de tomar ecstasy.

O nome que se dá ao diagnóstico provocado pelo consumo deliberado de água é hiponatremia. Ou seja, quando se bebe água demais, alguns minerais de extrema importância para organismo começam a se diluir, reduzindo assim as concentrações deles no sangue. Um desses minerais é sódio, ligado ao controle do volume do plasma, á condução dos impulsos nervosos, conhecidas como sinapses, e também à atividade dos músculos. Os rins também sofrem com o volume exacerbado de água. Eles são incapazes de filtrar uma quantidade demasiada, sendo que essa água então vai para as células, inchando-as. Muitas delas conseguem absorver o excesso, mas os neurônios podem lançar mão desse mecanismo, já que não espaço para tal dentro do crânio. E isso pode causar um edema na região, provocando convulsões, coma, problemas respiratórios, hérnia no cérebro e morte.
A boa notícia é que casos como aqueles apontados acima não acontecem simplesmente porque se consumiu água demais. A situação requer também que haja aumento da produção de hormônio antidiurético no organismo, hormônio esse que estimula os rins a reterem água. Sua concentração aumenta na corrente sanguínea quando, por exemplo, se corre uma maratona. Sendo assim, o conselho é que você beba água de acordo com a quantidade de líquidos que perde na urina, suor e fezes. Mas, não é fácil calcular exatamente o quanto de líquido se perde durante uma atividade e, também o quanto é necessário repor. Ou seja, a dica de ouro é, então, beber água na medida da sua sede.