Caros cavalheiros, entender o que é e como funciona o Fator de Queda (FQ) é tão importante para o universo da verticalidade quanto a combustão é para um mecânico; tudo o que realizarmos em altura deverá ter uma avaliação sistemática dos fatores de queda e do que será feito para manter um nível de segurança aceitável, ou seja, FATOR DE QUEDA ZERO (condição ideal), FATOR DE QUEDA 1 (condição aceitável) e FATOR DE QUEDA 2  (condição extrema que deve ser evitada). Daremos mais ênfase para esse tema tendo em vista o foco desse artigo, porém uma boa avaliação de riscos deve considerar vários aspectos.
       Quando não houver a possibilidade de realizar o trabalho com FQ inferior a 2, medidas adicionais de segurança devem ser tomadas, por exemplo: uso de absorvedor de impacto nos sistemas de proteção contra quedas, planejamento de resgate rápido e eficiente, limitar acesso a áreas com risco de queda, etc. Acredite, o assunto merece atenção e geralmente as pessoas só se importam em “terminar o trampo logo”, aí quando um trabalhador cai e fica pendurado ou ocorre falha no sistema de proteção contra quedas, começa a correria… gente gritando, correndo com kit de primeiros socorros… Alguns dos senhores já devem ter atendido alguma ocorrência de queda de telhado ou andaime e sabem do que estou falando.
        Voltando ao assunto… como calcular o fator de queda?
        Simples!
        Fator de Queda (FQ) é a divisão da distância da queda (DQ) pelo comprimento do talabarte (CT) ou comprimento da corda que suportou essa queda. Portando, em condições normais de trabalho, esse valor vai variar entre 0 e 2.
       Exemplo 1:
Fator de queda 0
Fator de queda zero

       A linha amarela representa o comprimento do talabarte duplo (um metro para nosso exemplo, mas que pode variar dependendo do fabricante) e a linha vermelha representa a altura da queda (trinta centímetros), portanto teremos:

FQ = DQ/CT       =       0,3 / 1 = 0,3      resultado: Fator de Queda zero
       Exemplo 2:
Fator de queda 1
Fator de queda 1
A linha amarela representa o comprimento do talabarte duplo (um metro) e a linha vermelha representa a altura da queda (um metro), portanto teremos:

FQ = DQ/CT       =       1 / 1 = 1       =       resultado, Fator de Queda 1 e:
       Exemplo 3:
Fator de queda 2
Fator de queda 2
       O último exemplo ilustra a pior condição possível, que deve ser evitada a qualquer custo: o FQ 2. Considerando os números já expostos ficaria assim:

FQ = DQ/CT       =       2 / 1 = 2       =       resultado, Fator de Queda 2

       Estudos indicam que o corpo humano suporta um impacto limite de 1200 kg. Acima disso existe a possibilidade de ocorrer lesões graves ou o pior, rompimento de órgãos resultando em hemorragia interna. Sua gestão e planejamento podem transformar uma “quedinha” corriqueira em um grave acidente, por isso insisto: avalie sempre os riscos, mantendo o fator de queda próximo de zero.

       Agora vamos ver qual a força de impacto é gerada por uma queda. Vou tentar dar uma explicação simples, até porque sou péssimo em exatas… então… tenha paciência :)  !

       Quando um corpo sobe ele acumula energia potencial; essa energia se desprenderá transformando-se em energia cinética quando o corpo estiver em movimento (no caso, a queda), movido pela força da gravidade. Isso é mostrado pela seguinte fórmula: Epg = m.g.h, onde:
Epg = energia potencial gravitacional
m = massa, dada em quilograma (para nosso exemplo utilizaremos o peso médio de um adulto, 80 kg)
g = aceleração da gravidade, dada em m/s² (o valor padrão ao nível do mar é 9,81 m/s², mas arredondaremos para 10, facilitando o cálculo)
h = altura, dada em metros
Obs: outras variantes são levadas em conta, mas para facilitar a compreensão, deixamos a fórmula “curta e grossa”.

       Para o FQ zero teremos:
       80.10.0,3 = 240 kg   –   OK, sem problemas, só um susto.

       Para o FQ 1 teremos:
       80.10.1 = 800 kg  –  Achou muito? Sabe de nada inocente! Você vai no FQ 2!

       Para o FQ 2 teremos:
       80.10.2 = 1600 kg  –  Provavelmente haverão lesões graves (trauma) e possível hemorragia interna.

       Mas existe uma luz no fim do túnel! Utilizar absorvedores de impacto ou cordas dinâmicas!
Talabarte duplo com absorvedor de impacto e corda dinâmica
Talabarte duplo com absorvedor de impacto e corda dinâmica

       As normas que versam sobre trabalhados em altura deixam claro a obrigatoriedade do uso dos absorvedores de impacto (também chamados de SDE – Sistema Dissipador de Energia) quando existir o risco de queda fator 1 ou mais. Os absorvedores de impacto começam a romper suas costuras com aproximadamente 300 kg. O uso de equipamentos com absorvedor de impacto requer uma avaliação da Zona Livre de Queda (ZLQ) para seu correto funcionamento.
Zona Livre de Queda
Zona Livre de Queda = soma das distâncias A, B, C e D.

       A ZLQ corresponde a soma das distâncias A (comprimento do talabarte), B (comprimento do absorvedor de impacto aberto), C (distância do ponto de conexão no cinto até os pés – aproximadamente 1,5 m) e D (distância mínima de segurança do chão ou qualquer ponto de impacto). Fator de Queda e Zona Livre de Queda estão intimamente ligados, pois um trabalho com FQ 1 acionará o absorvedor e fará com que o trabalhador desça um pouco mais a ponto de colidir com alguma estrutura! As distâncias tanto do absorvedor aberto quanto dos talabartes podem variar dependendo do fabricante, portanto eles devem sinalizar de forma indelével qual a ZLQ mínima requerida.
Absorvedor de Impacto Ultrasafe
Marcação da ZLQ no SDE
       Quando falamos de atividades esportivas, como a escalada, o uso de cordas dinâmicas também é obrigatório – elas têm função semelhante ao SDE, ou seja: transferir para o nosso corpo uma força de impacto máxima de 600 kg. Agora sim! os valores apresentados nos cálculos simples que efetuamos acima serão reduzidos graças ao mecanismo desses “santos” acessórios!

        Os vídeos abaixo ilustram de forma técnica e muito profissional o que ocorre em cada caso: o primeiro é produzido pela Ultrasafe (fabricante brasileiro de equipamentos para resgate e trabalhos em altura) e mostra o funcionamento do SDE do talabarte duplo; o segundo é produzido pela Edelweiss (fabricante francês de equipamentos para escalada) e mostra como funciona o FQ na escalada.
fonte salvamento brasil