O termo ‘cardiopatia congênita’ refere-se às doenças do coração e/ou dos vasos sanguíneos que estão presentes ao nascimento. São causadas por falhas no desenvolvimento embriológico do sistema cardiovascular e podem ser diagnosticadas ainda na vida intra-uterina por meio da ecocardiografia fetal (ultra som do coração do bebe) a partir da 15ª semana de gestação, aproximadamente.

Geralmente a cardiopatia congênita ocorre isoladamente, mas, em alguns casos, a doença pode estar associada às más-formações em outros órgãos ou sistemas, como por exemplo o renal ou neurológico. As cardiopatias congênitas são comuns em pacientes portadores de Síndromes genéticas (com alterações cromossômicas), como a Síndrome de Down (Mongolismo) entre outras. Na absoluta maioria das vezes, a cardiopatia congênita não tem hereditariedade; ou seja, ela ocorre pontualmente em um paciente em formação dentro do útero de uma mãe saudável que engravidou de um pai também saudável.

“Entretanto, em alguns casos, as cardiopatias congênitas podem ocorrer dentro de famílias predispostas. Pais que tiveram ou tem uma cardiopatia congênita ou já tiveram pelo menos um filho com cardiopatia congênita tem mais chance de terem outros filhos com cardiopatias congênitas”, alerta o Dr. Carlos A.C. Pedra, membro titular da SBHCI e chefe da Seção Médica de Intervenções em Cardiopatias Congênitas do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia em São Paulo.

Algumas condições também aumentam o risco de se ter um bebê com cardiopatia congênita. São eles: diabetes materna, doenças reumatológicas materna (principalmente o Lupus), fertilização in vitro, gemelaridade, idade materna > 34-35 anos, uso de medicamentos na gestação como o Lítio ou a Warfarina, uso de álcool ou drogas como a cocaína ou crack na gestação, e fetos com suspeita de serem portadores de síndrome genéticos ou de outras más-formações em outros órgãos. Nestas situações é recomendável que a gestante faça um ecocardiograma fetal a partir da 24ª semana de gestação para realização do diagnóstico, aconselhamento familiar e estabelecimento de um plano terapêutico.

“A cardiopatia congênita acomete 0,8 a cada 100 nascidos vivos. Com esta incidência e levando-se a taxa de natalidade no Brasil, estima-se que cerca de 24 mil bebês com cardiopatias congênitas nascem no Brasil, denotando a importância deste tipo de doença no sistema de saúde do país”, refere o Dr. Carlos AC. Pedra.

Sintomas

Há inúmeros tipos de cardiopatia congênita e cada uma se manifesta de uma forma. Algumas cardiopatias congênitas mais simples não levam necessariamente a sintomas, mas a doença é diagnosticada pela presença de um sopro identificado pelo Pediatra. Em casos mais graves, o bebê nasce com uma cor azulada da pele e mucosas (chamada de cianose). Outros pacientes podem apresentar cansaço às mamadas ou aos esforços, ganho de peso deficiente, bronquites e ou pneumonias de repetição. Outras vezes, o paciente pode referir que o coração tropeça ou dispara subitamente denotando a presença de arritmias, que são alterações dos batimentos cardíacos.

De acordo com o Dr. Luiz Alberto Cristiani, diretor do setor de cardiopatia congênita da SBCI, “os sintomas podem aparecer no nascimento, durante a infância ou na fase adulta como forma de sopro cardíaco, falta de ar, cansaço ao extremo, arritmia cardíaca, entre outros”.

Diagnóstico
O diagnóstico das cardiopatias congênitas deve ser realizado por meios clínicos e por métodos de imagem, principalmente a ecocardiografia, método não invasivo que é a ultra-sonografia do coração. Entretanto, na maioria das vezes o diagnóstico é realizado após o nascimento do bebê. Apesar de o ecocardiograma ser a principal ferramenta diagnóstica, outros métodos tem muita importância para o estabelecimento de um diagnóstico preciso e são comumente realizados em pacientes com cardiopatias congênitas.

São eles: radiografia do tórax, eletrocardiograma, Holter, teste de esforço (a partir de 6-7 anos), monitoração ambulatorial da pressão arterial, tomografia computadorizada, ressonância magnética, cintilografia cardíaca ou pulmonar e cateterismo cardíaco. Este último passou a ter um papel mais terapêutico que diagnóstico nos últimos 20 anos.

Tratamento

O tratamento é variado e depende do tipo de cardiopatia congênita. Existem situações na qual um pequeno buraco entre câmaras do coração diminui muito de tamanho ou simplesmente fecha espontaneamente com o tempo, não requerendo terapia específica. Em outros casos, estes orifícios podem causar sintomas como cansaço e ganho ponderal insuficiente requerendo o uso de medicamentos para melhorar a situação clínica como diuréticos e vasodilatadores. “Algumas cardiopatias pode se acompanhar de arritmias. Neste caso, medicamentos para controlar o ritmo do coração são acrescentados”, alerta Dr. Cristiani.

O tratamento é dentro de um ambiente multi disciplinar em que o paciente com cardiopatia congênitas deve ser idealmente manejado. Para o tratamento destes pacientes é preciso ter profissionais especializados em psicologia, serviço social, fisioterapia, nutrição, enfermagem, medicina fetal, obstetrícia, pediatria, terapia intensiva, cirurgia cardíaca, ecocardiografia, radiologia, e cardiologia intervencionista entre outros.

De modo geral, a grande maioria das cardiopatias congênitas necessita de uma intervenção pontual para seu tratamento. Esta intervenção pode ser realizada por meio da cirurgia cardíaca a céu aberto ou pelo cateterismo terapêutico, que ganhou importância nos últimos 20 anos. A opção entre a cirurgia e o cateterismo depende de uma série de fatores incluindo o tipo de cardiopatia congênita (algumas só podem ser tratadas por cirurgia), a idade do paciente, a experiência do serviço com cirurgia cardíaca e com o cateterismo terapêutico. Cardiopatias mais simples, como buracos nas paredes cardíacas, válvulas ou vasos estreitos, são tratadas de forma menos invasiva por meio do cateterismo.

Finalmente, existem cardiopatias graves (infrequentes) que podem necessitar de intervenção intra uterina. Nestes casos, uma agulha passa pela barriga e útero maternos até chegar ao coração do bebê para possibilitar a dilatação de uma valva apertada por meio de um cateter. Cada cardiopatia congênita deve ser tratada de forma individualizada, levando-se em conta o paciente, sua família e os melhores métodos terapêuticos disponíveis.A Cardiopatia Congênita é qualquer anormalidade na estrutura ou função do coração que surge nas primeiras 8 semanas de gestação quando se forma o coração do bebê. Ocorre por uma alteração no desenvolvimento embrionário da estrutura cardíaca, podendo ser descoberto no nascimento ou anos mais tarde. É o defeito congênito mais comum e uma das principais causas de óbitos relacionadas a malformações congênitas.

A maioria das alterações cardíacas ocorre quando o bebê ainda está no útero. Durante o primeiro mês de gestação, o coração do feto começa a bater. Nesta altura, o coração é apenas um tubo com um formato que lembra vagamente um coração. Logo as estruturas se formam em ambos os lados do órgão, bem como os vasos sanguíneos que transportam o sangue.

Geralmente é neste momento no desenvolvimento de um bebê que as alterações cardíacas podem começar a desenvolver. Não se sabe ao certo o que causa a cardiopatia congênita, mas há suspeita de algumas condições: as alterações genéticas ou cromossômicas na criança, como a síndrome de Down , que leva a uma incidência oito vezes maior de desenvolver alguma cardiopatia; uso de certos medicamentos , álcool ou drogas durante a gravidez; infecção viral materna, como rubéola, no primeiro trimestre de gravidez . O risco de ter uma criança com doença cardíaca congênita pode dobrar se um pai ou um irmão tem uma alteração cardíaca congênita.

O tratamento da cardiopatia congênita depende do tipo e da gravidade. Alguns bebês têm cardiopatias leves, que curam por conta própria com o tempo. Em outros casos, podem ser necessário tratamento medicamentoso ou exigir cirurgia cardíaca. Estas podem incluir: procedimentos por cateter, cirurgias de peito aberto ou, nos casos mais graves, um transplante de coração.

Como a causa exata da maioria das cardiopatias congênitas é desconhecida, pode não ser possível evitar essas condições. No entanto, existem algumas coisas que podem ser feitas para reduzir o risco de cardiopatia congênita em seu filho: tomar a vacina de rubéola; controlar doenças crônicas, como diabetes e evitar substâncias nocivas durante a gravidez.

“Como a infra-estrutura para este tratamento implica desde o manuseio clínico ambulatorial, como os cuidados pré e pós-procedimento por intervenção percutânea ou cirúrgica, há um grande número de profissionais está envolvido nesta causa. Este envolvimento é muito mais profundo do que o intelectual ou físico, pois cuidar dos corações destas crianças encanta a todos que se envolvem nesta causa ”, destaca a Dra. Andressa Mussi, cardiopediatra do HECI.

Para ela, a Cardiologia Pediátrica é uma especialidade que se preocupa com o coração no indivíduo em crescimento e desenvolvimento. “Esta área tem crescido nas últimas décadas e vem promovendo a possibilidade do tratamento de crianças, adolescentes e adultos jovens com cardiopatia congênita através de procedimentos clínicos, cirúrgicos e de cardiologia intervencionista (hemodinâmica)”,explica.

Para que estes procedimentos sejam possíveis é necessária alta qualificação na área diagnóstica e terapêutica, mas em especial é necessária uma equipe multidisciplinar bem preparada.

Com o avanço da medicina, vem sendo possível diagnosticar e tratar mais precocemente os bebês e crianças com defeitos cardíacos congênitos. Com isso a Cardiologia Pediátrica tem crescido muito, e no HECI há a possibilidade de cuidar de pacientes com cardiopatia congênita desde bebês até adultos.