Incidência em homens é maior, entretanto, as mulheres são mais suscetíveis à doença
As doenças hepáticas alcoólicas, sobretudo a cirrose, acometem duas vezes mais homens do que mulheres. Esta enfermidade, definida como uma lesão no fígado, é causada pela ingestão abusiva de substâncias etílicas, atingindo de 10 a 15% dos alcoólatras. Uma avaliação cuidadosa é fundamental para o diagnóstico e o tratamento adequado, além de possibilitar o controle e prevenção de outras complicações.
O consumo abusivo cada vez mais precoce por parte dos jovens pode resultar em sérios prejuízos para a saúde no futuro. De acordo com a Dra. Lilian Kanda Morimitsu, endocrinologista do Hospital Santa Cruz, as substâncias etílicas podem provocar, com o tempo, três tipos de lesões hepáticas: o acúmulo de gordura no fígado, a inflamação, e o aparecimento de cicatrizes, ou seja, a cirrose, que está entre as dez principais causas de morte nos países ocidentais.
Ainda de acordo com a especialista, grande parte dos pacientes diagnosticados com cirrose está entre 40 e 60 anos de idade. E complementa: “No Estado de São Paulo, as doenças do fígado são a segunda causa de morte entre homens de 35 a 59 anos, sendo que, 10% dos casos de óbito são devido à cirrose hepática alcoólica”.

Embora a incidência em homens seja maior, as mulheres são mais suscetíveis ao desenvolvimento de cirrose hepática alcoólica por apresentarem níveis sanguíneos de etanol mais elevados após uma dose padrão, devido a um aparente volume médio de distribuição de álcool menor. Segundo estudos da Secretaria de Saúde de São Paulo, o número de mulheres que procuram tratamento nos centros de saúde aumentou em 78% nos últimos três anos.
De acordo com a endocrinologista, os sintomas variam com base na gravidade da doença. Eles geralmente são piores após um período recente de consumo excessivo de álcool. “Aproximadamente 40% dos pacientes com cirrose são assintomáticos”, diz. Ela acrescenta que os sinais mais comuns são “dor e sensibilidade abdominal, boca seca e aumento da sede, fadiga, perda de apetite, náusea e inchaço ou acúmulo de líquido nas pernas (edema) e no abdome (ascite)”.
O diagnóstico é realizado com base no histórico clínico do paciente e exames laboratoriais. Para os indivíduos com doença hepática alcoólica que ainda não desenvolveram cirrose é “fundamental parar com o consumo de álcool. Os acometidos por obesidade e diabetes, devem realizar o tratamento com dieta e atividade física”, alerta a médica.

Efeito no organismo
A inflamação do fígado ou hepatite alcoólica ocorre devido ao consumo demasiado de álcool. Embora distinta da cirrose, ela é considerada como o primeiro estágio da doença hepática alcoólica. “Os sintomas são acúmulo de líquido na cavidade abdominal, fadiga e encefalopatia hepática, ou seja, disfunção do cérebro devido à insuficiência hepática”, diz a Dra. Lilian Kanda Morimitsu, endocrinologista do Hospital Santa Cruz.
O álcool tem ação tóxica direta sobre diversos órgãos quando utilizado em doses consideráveis. Gastrites e úlceras no estômago, hepatites tóxicas e acúmulo de gordura nas células do fígado, lesões cerebrais, demência e diminuição da força muscular nas pernas são algumas das complicações crônicas que as doenças hepáticas podem ocasionar.
Mais da metade dos casos de cirrose são mesmo provocados pelo consumo excessivo de bebida alcoólica. Quem explica sobre a doença, que atualmente vem acometendo muitos jovens exatamente por conta do álcool, é o médico hepatologista Renato Hidalgo, que também é o coordenador do Centro de Transplantes do Hospital Unimed Sorocaba.
Ele explica que a cirrose é uma inflamação do fígado, cujo órgão acaba substituído pelas cicatrizes provocadas pelos ferimentos decorrentes do álcool, mas que, se diagnosticada enquanto o fígado ainda possui função regular, a doença deixa de evoluir, mas a partir de então, o consumo de bebida alcoólica tem que ser zerado. E, segundo o especialista, essa determinação por parte do doente é que vai direcionar o resultado do tratamento. Ele destaca, porém, que o alcoólatra é um dependente químico, e que nesse caso, é necessário acompanhamento múltiplo, envolvendo também psicólogo, psiquiatra ou terapeuta.

No caso da cirrose por álcool, o médico frisa que desenvolverá a doença quem for alcoólatra, mas atenta que muitas vezes os pacientes já têm outras doenças como esteatose (gordura no fígado), hepatites virais, que com o uso do álcool pode levar à cirrose.

Sintomas
Os sintomas da cirrose alcoólica são falta de apetite, perda de massa muscular, inchaço nas pernas e abdomen (barriga d"água), amarelamento dos olhos e da pele (icterícia), e em alguns casos, sangramentos pelo nariz, boca e evacuações, pois o fígado doente já não promove mais coagulação do sangue e se inicia a hemorragia.
O transplante de fígado é baseado em legislação federal por meio do Ministério da Saúde, e no caso da cirrose por bebida, é obrigatório que o paciente esteja há pelo menos seis meses sem beber para poder entrar na fila de espera.
Hidalgo também destaca que hoje os pacientes beneficiados são escolhidos pela gravidade dos casos. Crianças e adolescentes sempre terão prioridade, independente do fator causador da cirrose.
Pela legislação brasileira, o hepatologista diz que doação do órgão em vida é permitido por parentes em até segundo grau ou mediante autorização judicial.
fonte: melhoramiga.com.br